No dia 25, 26 e 27 de Setembro, conforme anunciado, realizaram-se as Jornadas Europeias do Património no Museu Nacional de Arqueologia onde o Projecto ESTELA promoveu visitas guiadas, oficinas pedagógicas e uma conferência. Embora tendo passado já algum tempo aqui ficam algumas imagens e notas sobre esses dias.
Nos três dias,
num total de mais de uma centena de pessoas, participaram nas visitas guiadas
às exposições “Quem nos escreve desde a serra” e a exposição evocativa de “A I
Idade do Ferro no Sul de Portugal: Epigrafia e Cultura”. 35 anos, 1980-2015.
A oficina pedagógica “Cada estela, uma tela”
acabou por ser realizada duas vezes, destacando-se a de 1 de Outubro
protagonizada por cerca de 60 alunos do Lycée Français International de Porto
que depois de visitarem as exposições, utilizaram a escrita do Sudoeste para escrever
algumas palavras.
No dia 26
foram perto de 50 pessoas que ouviram Amílcar Guerra (Universidade de Lisboa) falar
sobre a escrita do Sudoeste na conferência da peça do mês a partir da estela do
Tavilhão (Almodôvar). Aqui deixamos registado o resumo dessa apresentação:
«Entre o
espólio mais relevante do Museu Nacional de Arqueologia conta-se um conjunto de
monumentos epigráficos do Sul de Portugal pertencentes ao que se designa como
“escrita do Sudoeste”, também conhecida como “tartéssica”. Esta manifestação é
tomada geralmente como a mais antiga escrita da Península Ibérica, à qual se
atribui uma cronologia entre os séc. VII e V a. C. Um dos mais bem conservados
vestígios deste conjunto é a estela do Tavilhão II, recolhida nesse lugar da
freguesia do Ameixial, situado no interior do concelho de Loulé, em plena Serra
do Caldeirão e nas margens da Ribeira do Vascão.
A área em que
este achado ocorre corresponde a um território em que se regista a maior
concentração de manifestações deste género, repartida essencialmente entre este
concelho e os vizinhos de Almodôvar, Silves e Ourique, os quais, só por si,
reúnem mais de metade de todos as inscrições com esta escrita em território
peninsular. Apesar de particularmente concentrados nessa área, a sua
distribuição abarca todo o sul de Portugal (abaixo da linha de Serpa) e uma
vasta área que engloba uma parte significativa da Andaluzia e Estremadura
espanhola.
O monumento em
si corresponde a uma estela funerária que certamente identificaria a sepultura
de um membro de elite dessa região, que também na morte se diferenciava de
muitos outros membros da comunidade. A parte inferior do bloco de xisto deveria
ser fixada no solo, acima do qual se apresentaria um texto escrito da direita
para a esquerda (ao contrário, portanto, da orientação da nossa escrita). O
sistema de signos usado nesta inscrição descende do alfabeto fenício e foi
criado no Sul da Península Ibérica para transcrever a(s) língua(s) dessa
região. Embora saibamos transcrever essas inscrições, não é ainda possível
traduzi-las, desconhecendo-se mesmo a língua em que se encontram escritas,
tratando-se, portanto, de um texto indecifrado.»
Por fim, no
último dia cerca de 20 participantes exploraram as soluções digitais
desenvolvidas no Museu Nacional e Arqueologia, em particular em torno do recipiente
cerâmica com asa de cesta e a já referida estela com escrita do Sudoeste, peças
que integram a exposição evocativa acima referida.
A organização
destas actividades resultou de uma parceria com o Museu Nacional de Arqueologia e a equipa EuroVision
Museum Exhibiting Europe, a quem agradecemos uma das imagens.