Quem
partilhou a sua amizade, terá muita dificuldade em esquecer, a sua irremediável
perda, particularmente sentida pelo facto de nele se conjugarem um conjunto de
virtudes que faziam dele uma pessoa excepcional. De um lado as suas qualidades
humanas, por todos bem conhecidas: a sua delicadeza e sensibilidade, a sua
generosidade e permanente disponibilidade para acolher todos os que o
procuravam, a sua extrema modéstia, marcada mesmo por alguns laivos de
insegurança que davam ainda maior relevo à sua estatura como homem de ciência.
No domínio científico sobressaíam, para além da sua enorme capacidade de
trabalho, demonstrada em particular nos vários volumes dos Monumenta Linguarum Hispanicarum, o rigor, a honestidade e a
solidez da sua investigação.
O
domínio das escritas e línguas paleo-hispânicas constituiu um dos que mais
concitou a sua atenção, tendo dedicado, no que expressamente diz respeito ao
âmbito das escritas do Sudoeste da Hispânia, uma obra de referência, o volume
IV dos seus Monumenta, publicado em
1997. Este livro fundamental para os estudos destes temas é constituído por um
repertório da documentação epigráfica pertinente e por uma análise rigorosa de
todo esse repositório. A esta obra juntou muitas outras referências
fundamentais sobre o tema, no qual era um eminente especialista.
Neste
contexto, as estelas de Almodôvar, para além de terem feito parte do seu
trabalho, fizeram também parte da sua vida e ficaram associadas a momentos para
ele inesquecíveis. Do mesmo modo, também ele se tornou inesquecível para todos
os que o conheceram --- por isso a sua memória ficará inevitavelmente ligada a
estas paisagens e a estas pedras, a estas lápides que de alguma forma são suas.
Amílcar Guerra
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