quarta-feira, 16 de março de 2011

Encontros sobre a Idade do Ferro no Sul de Portugal: em torno da escrita do Sudoeste


Dentro do ciclo de conferências da Secção de História da Associação dos Arqueólogos Portugueses, no Museu Arqueológico do Carmo (Lisboa), terá lugar no dia 26 de Março a partir das 15h, o que se espera ser o primeiro dos Encontros sobre a Idade do Ferro no Sul de Portugal, dedicado ao tema “Em torno da escrita do Sudoeste” onde o Projecto ESTELA participa conforme programa:

- 15h00m - "A escrita do Sudoeste Peninsular. Fundamentos para a sua compreensão" - Mário Varela Gomes

- 15h30m - "Escrita do sudoeste: origem e problemas de decifração" - Miguel Valério

- 16h00m - "Contributos do Projecto ESTELA para a investigação da escrita do Sudoeste" - Amílcar Guerra, Samuel Melro e Pedro Barros

- 16h30m - " 'Ferro de Ourique': necrópoles na paisagem ou paisagem de necrópoles?" - Jorge Vilhena

- 17h00m - "Necrópole do Pardieiro: resultados da escavação de 2008-2009" - Virgílio Hipólito Correia e Jorge Vilhena

- 17h30m - Debate e conclusões

terça-feira, 15 de março de 2011

Conferência no Museo Arqueológico Provincial de Badajoz


aqui anteriormente noticiámos a participação do Projecto ESTELA dentro do ciclo de conferências do primeiro semestre de 2011 do Museo Arqueológico Provincial de Badajoz que teve lugar no dia 5 de Março pelas 11h30m locais, com a apresentação da conferência: “A escrita do Sudoeste e a Idade do Ferro no Sul de Portugal”.


Resumo:

O Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA) criado em 2007 em torno de um dos maiores ícones da Idade do Ferro do Sul de Portugal (Baixo Alentejo/Algarve) – as estelas com escrita do Sudoeste – reflecte a preocupação em valorizar este património arqueológico.
O espaço geográfico do fenómeno da Escrita do Sudoeste, que se estende entre a Extremadura (Espanha) e o Algarve (Portugal), conta com uma maior concentração, entre um agrupamento no barrocal algarvio, e um interior alentejano no Alto Mira e Alto Sado, observando-se ainda nas serras de Mú e Caldeirão, um importante conjunto localizado na transição do Alentejo e do Algarve, cuja centralidade na dispersão das estelas epigrafadas não será displicente.
A discussão dos modelos explicativos da chamada I Idade do Ferro é objecto de debate, onde o problema da cronologia é perspectivado a dois níveis num evidente desequilíbrio: a componente epigráfica e linguística e a componente arqueológica. Uma vez constatado o reiterado cariz de reutilizações tardias das estelas, isto é da sua relação secundária com as necrópoles, verifica-se um desencontro temporal entre a cultura material conhecida no registo arqueológico, essencialmente a partir do século VI a.C., e algumas propostas que sugerem uma datação mais recuada atribuída à escrita do Sudoeste.
Esta manifestação epigráfica, conhecida como “escrita tartéssica”, corresponde a realidade material cujos vestígios se dispersam pelo Sudoeste Peninsular, razão pela qual me parece adequada designá-la também como “escrita do Sudoeste”. Os documentos até ao momento identificados, que rondam aproximadamente uma centena, representam a mais antiga escrita local documentada na Península Ibérica. A cronologia do fenómeno e em especial a das suas manifestações mais precoces é bastante discutida, situando-se, de qualquer modo, no âmbito da chamada I Idade do Ferro.
Reconhece-se no sistema de signos então criado uma dependência directa do alfabeto fenício (com eventuais contributos de outra origem, segundo algumas propostas), o qual servir de base a um semi-silabário hispânico. Embora se conheça um elenco dos seus caracteres, em número de 27, através de um documento proveniente da localidade alentejana de Espanca (Castro Verde), a contabilidade do conjunto de signos é superior, o que amplia as incertezas originárias a respeito do valor fonético de todos os grafemas. Esta dificuldade parece acentuar-se com alguns novos achados em que ocorrem novas formas de alguns signos. Sem resolver esta questão, o projecto ESTELA procurará contribuir para uma análise do sistema e das suas variantes.
A natureza fragmentária de muitos dos monumentos epigráficos, o facto de os textos serem bastante breves (o mais extenso ultrapassa em pouco os 80 caracteres) e a inexistência de textos bilingues são algumas das razões pelas quais continua a considerar-se enigmático o significado destes textos. Assinala-se, todavia, a recente proposta da sua vinculação a uma língua céltica, proposta que contraria a sua tradicional interpretação como uma língua não-indoeuropeia desta região meridional.
A necessidade de pôr à disposição de todos informação sobre esta temática e a sua expressão, resultou no projecto ESTELA – Sistematização da Informação das Estelas com Escrita do Sudoeste. Através da caracterização dos contextos arqueológicos (apoiada em reconhecimentos no terreno, no estudo de colecções e na documentação de museus) pretende-se contribuir para a revisão dos conhecimentos sobre uma sociedade que produziu esses monumentos, tentando compreender as directas relações entre espaço habitacional, o mundo funerário e as inscrições e fornecer mais dados para a explicação desta cultura. Não se pretende deslindar o que nos querem transmitir, mas sim tentar compreender quem nos quer transmitir.
O projecto procura ainda conjugar a salvaguarda, a valorização, a educação e a fruição das paisagens culturais. A sistematização da informação arqueológica irá permitir a sua dinamização e gestão sustentada, o planeamento das actividades museológicas e o desenvolvimento de parcerias, mas sobretudo transpor um Museu para o Território como reflexo e reconhecimento deste elemento de originalidade, factor de diferenciação e afirmação da identidade, memória histórica da primeira região com escrita no contexto peninsular.

Gostaríamos de agradecer o convite e a amabilidade com que fomos recebidos pelo Director do Museu: Manuel de Alvarado.