sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Cerâmica de engobe vermelho com escrita do Sudoeste na National Geographic

Os votos de um Bom Ano Novo não podiam ser melhor acompanhados do que pela publicação no número de Janeiro da edição portuguesa da National Geographic, saída ontem para as bancas, de um fragmento de cerâmica de engobe vermelho com escrita do Sudoeste proveniente de Moura.

Trata-se de um fragmento recolhido num contexto de escavação arqueológica no castelo de Moura, no âmbito de trabalhos de arqueologia preventiva dirigidos pelo arqueólogo José Gonçalo Valente, e inserido num conjunto material e estratigráfico do século IV a.C..

Neste mesmo tipo de suporte em cerâmica, cronologias mais recuadas haviam sido indicadas por um fragmento proveniente do Castillo de Doña Blanca – séc. VIII/VII –, e indiciadas ainda pelos grafemas que encontramos nas peças de Medellín e no Castro da Azougada, com cornologias dos séc. VI e V a.C.. O agora novo fragmento de Moura, não é só extremamente importante pelo contexto arqueológico onde surge com uma cronologia segura que, como refere o professor Amílcar Guerra, prolonga o uso desta escrita, mas também pelo facto de não se tratar de um grafema isolado, ao qual poderíamos questionar tratar-se de literacia efectiva, mas de uma sequência de cinco signos. De acordo com a leitura de Amílcar Guerra, à parte conservada deve ler-se: *nabaor*, podendo provavelmente a primeira letra de que se conserva o pequeno sector ser um a, pelo que teríamos – com a peculiaridade de não haver redundância –: ]anabaor*[.


 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Castro dos Ratinhos e as Cerâmicas da Azougada

Na próxima quarta-feira, dia 15 (pelas 18.30), tem lugar, na Câmara Municipal de Moura, o lançamento daquelas que podemos já referir como duas referências obrigatórias para a proto-história do Sudoeste Peninsular e dignamente editadas pelo Museu Nacional de Arqueologia como suplementos d’O Arqueólogo Português.

Desde logo "O Castro dos Ratinhos (Barragem do Alqueva, Moura). Escavações num povoado proto-histórico do Guadiana, 2004-2007", de Luis Berrocal-Rangel e António Carlos Silva, autores que têm dado importantes contributos à arqueologia peninsular, e em particular à Idade do Ferro.

E por fim, é lançado "Um conjunto cerâmico da Azougada. Em torno da Idade do Ferro Pós-Orientalizante da margem esquerda do Baixo Guadiana", de Ana Sofia Tamissa Antunes.

Não podemos deixar de destacar por um lado, nesta obra, o capítulo de Ana Sofia Antunes – "Testemunhos de literacia na margem esquerda do Baixo Guadiana: os grafitos" (p. 429-436) – abordando os grafitos associados à escrita do Sudoeste nas peças cerâmicas da Azougada. E por outro a colaboração dada ao Projecto ESTELA, nomeadamente com a cedência de conteúdos sobre algumas dessas peças que se encontram na recentemente inaugurada exposição Vida e Morte na Idade do Ferro do MESA em Almodôvar [exposição e inauguração e montagem].


A apresentação dos livros estará a cargo de Carlos Fabião, numa sessão que contará ainda com a presença de Luís Raposo. As publicações são editadas pelo Museu Nacional de Arqueologia e têm o apoio da Câmara Municipal de Moura, da Direcção Regional da Cultura do Alentejo e da EDIA, S.A..

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A nova estela com escrita do Sudoeste, proveniente da Herdade do Monte Gordo (Almodôvar)

Foi apresentada por Amílcar Guerra, Rui Cortes, Pedro Barros e Samuel Melro no V EASP a mais recente descoberta da epigrafia da Escrita do Sudoeste.

O achado registou-se na Herdade do Monte Gordo, freguesia de Rosário (Almodôvar) e vem enriquecer o já rico repertório proveniente deste concelho, localizando-se em plena planície alentejana (entre o conjunto de Ourique e de Neves/ Corvo), fora da área serrana onde tem ocorrido em maior número.

Encontrava-se reaproveitada como umbreira de um Monte junto da estela pré-histórica do Monte Gordo e numa zona onde devem ter aparecido 8 espetos de bronze (Vasconcellos, 1933:235).


De uma forma geral a estela encontra-se bem conservada, mantendo-se em muito bom estado quase todo o seu campo epigráfico. Nele se inscreveu um texto relativamente extenso, que apresenta algumas particularidades interessantes e que constituirá certamente um contributo relevante para o corpus textual associado a esta manifestação escrita. A leitura das duas linhas do texto, de acordo com Amílcar Guerra, correspondem a


O novo achado epigráfico é igualmente exemplo da frutuosa acção do Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA), que para além de dar a conhecer à comunidade este património que lhe pertence, abrindo o caminho a que as populações estejam mais atentas e reconheçam com mais facilidade os bens arqueológicos que observaram nesta unidade museológicae reconheçam com mais facilidade os bens arqueológicos e lhe dêem o seu, reconhecido, valor patrimonial. Deste modo, não se torna surpreendente que se tenha identificado mais um monumento epigrafado, cujo achador – Sr. José Sousa – de imediato entrou em contacto com este Museu, como alias teve ocasião de relatar em recente emissão da RTP1.