quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Prospecções no concelho de Loulé



Desde os inícios de Novembro que decorrem os trabalhos do projecto ESTELA (novas prospecções arqueológicas e sistematização da informação arqueológica), no Concelho de Loulé. A área incide nas zonas serranas deste concelho (Ameixial, Salir, Querença, Tôr e Alte) onde as informações até aqui sistematizadas por Caetano de Mello Beirão constatavam já da importância das linhas de água nos limites norte do Algarve e em particular do concelho de Loulé (Beirão, 1986; Correia, 1997).


Estela de Viameiro (Museu de Loulé)


Essa concentração – oposta ao conjunto do Algarve ocidental dado a conhecer por Estácio da Veiga em Bensafrim – contempla por um lado o conjunto na vizinhança de Salir (Barradas, Viameiro e Alagoas), mas é sobretudo assinalado em torno do Ameixial (Azinhal dos Mouros, Vale dos Vermelhos, Portela, Corte Pinheiro) (Barros, Melro e Santos, 2010).

Ao facto não é estranho o empenho de Manuel Gomez de Sosa, espanhol então residente no Ameixial nos anos 50/60 (ainda hoje recordado vivamente por Manolo), verdadeiro responsável pela identificação do conjunto de estelas e sítios do Ameixial, Vermelhos, Tavilhão, Azinhal dos Mouros, entre outras. Este entusiasta deu continuidade ao trabalho de José Rosa Madeira (Franco e Viana, 1955), pioneiro da arqueologia do interior do concelho de Loulé, e que chamara já a atenção para a riqueza arqueológica dessa região serrana e em particular da Ribeira do Vascão.

De igual modo já antes o anotara o achado em 1886 de uma cabrinha de bronze no Vascão (Santa Cruz) dado a conhecer por Leite de Vasconcellos (1895) e que pela primeira vez pode ser vista na nova Exposição do MESA.



Estamos de novo nesse meio mundo entre o Alentejo e o Algarve, desde a Ribeira de Odelouca à Ribeira do Vascão. Na Serra.

Bibliografia:

BEIRÃO, C. de M. (1986) – Une civilization protohistorique du Sud du Portugal (1er Age du Fer), Paris, De Boccard.

CORREIA, V. H. (1997): "As necrópoles algarvias da I Idade do Ferro e a Escrita do Sudoeste". In BARATA, F. (coord.): Noventa séculos entre a serra e o mar. Lisboa: 265-279.

FRANCO, M. L., VIANA, A. (1945) – "O espólio arqueológico de José Rosa Madeira", in Brotéria, Lisboa, 41(5), pp. 386-419.

BARROS, P., MELRO, S. e SANTOS, P. J. (2010) – "Projecto ESTELA: primeiros resultados dos trabalhos nas serras de Mú e Caldeirão", Xelb,10, Silves.

VASCONCELLOS, J. L. de (1895) – "Cabrinhas ou bodes de bronze". O Arqueólogo Português, Lisboa, 1ª série, 11, pp. 296-301.

Vida e Morte na Idade do Ferro - montagem e inauguração





Inaugurou na passada quinta-feira a nova Exposição temporária do Museu da Escrita do Sudoeste de AlmodôvarVida e Morte na Idade do Ferro (video promocional) e que resultou dos trabalhos desenvolvidos pelo Projecto ESTELA, responsáveis pela respectiva produção de conteúdos e do catálogo.



Ficam aqui as palavras de António José Messias do Rosário Sebastião, presidente da CM de Almodôvar, e que abrem o Catálogo da Exposição:

"Depois de aberto ao público em 2007 na vila de Almodôvar, o MESA - Museu da Escrita do Sudoeste, constituiu um marco importante na realidade museológica nacional, tornando-se uma referência cultural, particularmente para a região envolvente em que insere o seu âmbito de estudo, o Alentejo e o Algarve.

Nos dois anos posteriores à inauguração da Exposição Almodôvar território emescrita, o Museu desenvolveu paralelamente a esta, um projecto de investigação arqueológica, intitulado ESTELA, que permitiu aprofundar o conhecimento Histórico sobre as comunidades e sítios habitados pelos nossos antepassados na região de Almodôvar durante a Idade do Ferro há mais de 2500 anos. Este trabalho permitiu-nos avançar desta forma para uma nova nova exposição, que agora se inaugura intitulada Vida e Morte na Idade do Ferro, cientes que muito ainda há para descobrir e clarificar sobre os modos de vida e cultura do povo que criou e utilizou a escrita do Sudoeste, esta nova exposição visa alcançar um dos objectivos fundamentais do MESA, trazer ao grande público os resultados da investigação cientifica promovida pela autarquia de Almodôvar através do seu Museu.

Convicto de que desta forma o Museu está a responder aos desafios para que foi criado, é importante salientar o contributo, que estamos a dar para a evolução do conhecimento arqueológico e histórico deste território a que hoje chamamos Portugal.
"














(foto: João Paulo Ruas)









A inauguração da exposição contou com a presença de cerca de 150 pessoas (entre participantes do V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular e almodovarenses) guiados pelo Projecto ESTELA numa visita explicativa.


(foto: CMA)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Vida e Morte na Idade do Ferro



Resultado dos trabalhos desenvolvidos pelo Projecto ESTELA entre 2008 e 2010 é inaugurada na próxima Quinta-Feira, dia 18 de Novembro, ao final do primeiro dia do V EASP, a Exposição Temporária no Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA): "Vida e Morte na Idade do Ferro".

A todos/as fica aqui o nosso convite!

V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular: programa



aqui anteriormente noticiámos a participação do Projecto ESTELA no V Encontro de Arqueologia do Sudoeste, em Almodôvar entre os dias 18 e 20 de Novembro, que conta com a apresentação de duas comunicações e um poster, conforme Resumos:


Projecto Estela: O Território da Escrita do Sudoeste e a Idade do Ferro na actual região de Almodôvar.
(Samuel Melro e Pedro Barros) [comunicação]

Resumo:

Desde 2008 que o Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA), promove o desenvolvimento do Projecto Estela: Sistematização da Informação das Estelas com Escrita do Sudoeste, reflectindo a preocupação por parte da Câmara Municipal de Almodôvar em valorizar um património arqueológico, do qual o concelho é, de certa forma, o epicentro. Através da caracterização dos contextos arqueológicos (apoiada em reconhecimentos no terreno, no estudo de colecções e na documentação de museus) coligiram-se dados para a revisão dos conhecimentos sobre uma sociedade que produziu esses monumentos.

A sistematização de toda esta informação, permite tentar compreender as directas relações entre espaço habitacional, o mundo funerário e as inscrições. Possibilita ainda reflectir sobre o problema chave da ausência de contextos seguros da proveniência das estelas, facto que tem impossibilitado de responder de forma clara e definitiva à pergunta quando foram feitas e onde estavam estas efectivamente colocadas.

Resulta assim que, a par da discussão dos modelos explicativos da usualmente chamada I Idade do Ferro, é ainda objecto de debate o problema da sua cronologia perspectivado a dois níveis em evidente desequilíbrio: a componente epigráfica e linguística e a componente arqueológica. Uma vez constatado o reiterado cariz de reutilizações tardias, isto é da relação secundária das estelas com as necrópoles, verifica-se um desencontro temporal entre a cultura material conhecida no registo arqueológico, essencialmente a partir do século VI a.C., e uma cronologia linguística mais recuada atribuída à Escrita do Sudoeste.

Pretende-se apresentar o balanço e resultados do Projecto Estela, contribuir para o conhecimento das principais problemáticas em torno deste tema e fornecer mais dados para a explicação desta importante manifestação cultural.


Notícia preliminar de uma nova estela com escrita do Sudoeste, proveniente da Herdade do Monte Gordo (Almodôvar).
(Amílcar Guerra, Rui Cortes, Pedro Barros, Samuel Melro) [comunicação]

Resumo:

A abertura, ainda relativamente recente, do Museu da Escrita do Sudoeste, em Almodôvar, para além de dar a conhecer à comunidade o património que lhe pertence, abre caminho a que as populações estejam mais atentas e reconheçam com mais facilidade os bens arqueológicos que observaram nesta unidade museológica, avaliando melhor o seu valor patrimonial. Deste modo, não se torna surpreendente que se tenha identificado mais um monumento epigrafado, do qual que se dá agora uma descrição sumária. O achado registou-se na Herdade do Monte Gordo, freguesia de Rosário (Almodôvar) e vem enriquecer o já rico repertório proveniente deste concelho. De uma forma geral a estela encontra-se bem conservada, mantendo-se em muito bom estado quase todo o seu campo epigráfico. Nele se inscreveu um texto relativamente extenso, que apresenta algumas particularidades interessantes e que constituirá certamente um contributo relevante para o corpus textual associado a esta manifestação escrita.

Apontamentos da Pré-história no concelho de Almodôvar.
(Artur Rocha, Samuel Melro, Pedro Barros, Rui Cortes) [poster]

Resumo:

Os trabalhos de prospecção desenvolvidos na década de 90 por Rui Cortes no âmbito da Carta Arqueológica do Concelho de Almodôvar e mais recentemente no âmbito do Projecto Estela contribuíram para identificar e sistematizar um conjunto de vestígios da Pré-História deste concelho.

Apesar de se encontrarem insuficientemente conhecidos, e do seu deteriorado grau de conservação, os sítios identificados caracterizam-se essencialmente por serem monumentos funerários. Algumas das suas características, permitem considerações comparativas entre os conjuntos megalíticos contíguos, nomeadamente os do Alto Sado e Alto Mira, mas com imediato particularismo como uma manifestação serrana, os situados no sotavento algarvio, nomeadamente do Alto Algarve Oriental e eventualmente uma associação com os monumentos do Barlavento algarvio.

Destaca-se assim o conjunto de tholoi do Canafixal e um conjunto diversificado de monumentos megalíticos piriformes, que terão continuidade e associações na arquitectura tumular ao longo da proto-história e que marcam a paisagem da Serra do Caldeirão.




Para além desta participação dos membros do Projecto estão previstas outras comunicações associadas a trabalhos desenvolvidos em Almodôvar (ver programa). Informações/Inscrições através do site da Câmara Municipal de Almodôvar.