sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Cerâmica de engobe vermelho com escrita do Sudoeste na National Geographic

Os votos de um Bom Ano Novo não podiam ser melhor acompanhados do que pela publicação no número de Janeiro da edição portuguesa da National Geographic, saída ontem para as bancas, de um fragmento de cerâmica de engobe vermelho com escrita do Sudoeste proveniente de Moura.

Trata-se de um fragmento recolhido num contexto de escavação arqueológica no castelo de Moura, no âmbito de trabalhos de arqueologia preventiva dirigidos pelo arqueólogo José Gonçalo Valente, e inserido num conjunto material e estratigráfico do século IV a.C..

Neste mesmo tipo de suporte em cerâmica, cronologias mais recuadas haviam sido indicadas por um fragmento proveniente do Castillo de Doña Blanca – séc. VIII/VII –, e indiciadas ainda pelos grafemas que encontramos nas peças de Medellín e no Castro da Azougada, com cornologias dos séc. VI e V a.C.. O agora novo fragmento de Moura, não é só extremamente importante pelo contexto arqueológico onde surge com uma cronologia segura que, como refere o professor Amílcar Guerra, prolonga o uso desta escrita, mas também pelo facto de não se tratar de um grafema isolado, ao qual poderíamos questionar tratar-se de literacia efectiva, mas de uma sequência de cinco signos. De acordo com a leitura de Amílcar Guerra, à parte conservada deve ler-se: *nabaor*, podendo provavelmente a primeira letra de que se conserva o pequeno sector ser um a, pelo que teríamos – com a peculiaridade de não haver redundância –: ]anabaor*[.


 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Castro dos Ratinhos e as Cerâmicas da Azougada

Na próxima quarta-feira, dia 15 (pelas 18.30), tem lugar, na Câmara Municipal de Moura, o lançamento daquelas que podemos já referir como duas referências obrigatórias para a proto-história do Sudoeste Peninsular e dignamente editadas pelo Museu Nacional de Arqueologia como suplementos d’O Arqueólogo Português.

Desde logo "O Castro dos Ratinhos (Barragem do Alqueva, Moura). Escavações num povoado proto-histórico do Guadiana, 2004-2007", de Luis Berrocal-Rangel e António Carlos Silva, autores que têm dado importantes contributos à arqueologia peninsular, e em particular à Idade do Ferro.

E por fim, é lançado "Um conjunto cerâmico da Azougada. Em torno da Idade do Ferro Pós-Orientalizante da margem esquerda do Baixo Guadiana", de Ana Sofia Tamissa Antunes.

Não podemos deixar de destacar por um lado, nesta obra, o capítulo de Ana Sofia Antunes – "Testemunhos de literacia na margem esquerda do Baixo Guadiana: os grafitos" (p. 429-436) – abordando os grafitos associados à escrita do Sudoeste nas peças cerâmicas da Azougada. E por outro a colaboração dada ao Projecto ESTELA, nomeadamente com a cedência de conteúdos sobre algumas dessas peças que se encontram na recentemente inaugurada exposição Vida e Morte na Idade do Ferro do MESA em Almodôvar [exposição e inauguração e montagem].


A apresentação dos livros estará a cargo de Carlos Fabião, numa sessão que contará ainda com a presença de Luís Raposo. As publicações são editadas pelo Museu Nacional de Arqueologia e têm o apoio da Câmara Municipal de Moura, da Direcção Regional da Cultura do Alentejo e da EDIA, S.A..

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A nova estela com escrita do Sudoeste, proveniente da Herdade do Monte Gordo (Almodôvar)

Foi apresentada por Amílcar Guerra, Rui Cortes, Pedro Barros e Samuel Melro no V EASP a mais recente descoberta da epigrafia da Escrita do Sudoeste.

O achado registou-se na Herdade do Monte Gordo, freguesia de Rosário (Almodôvar) e vem enriquecer o já rico repertório proveniente deste concelho, localizando-se em plena planície alentejana (entre o conjunto de Ourique e de Neves/ Corvo), fora da área serrana onde tem ocorrido em maior número.

Encontrava-se reaproveitada como umbreira de um Monte junto da estela pré-histórica do Monte Gordo e numa zona onde devem ter aparecido 8 espetos de bronze (Vasconcellos, 1933:235).


De uma forma geral a estela encontra-se bem conservada, mantendo-se em muito bom estado quase todo o seu campo epigráfico. Nele se inscreveu um texto relativamente extenso, que apresenta algumas particularidades interessantes e que constituirá certamente um contributo relevante para o corpus textual associado a esta manifestação escrita. A leitura das duas linhas do texto, de acordo com Amílcar Guerra, correspondem a


O novo achado epigráfico é igualmente exemplo da frutuosa acção do Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA), que para além de dar a conhecer à comunidade este património que lhe pertence, abrindo o caminho a que as populações estejam mais atentas e reconheçam com mais facilidade os bens arqueológicos que observaram nesta unidade museológicae reconheçam com mais facilidade os bens arqueológicos e lhe dêem o seu, reconhecido, valor patrimonial. Deste modo, não se torna surpreendente que se tenha identificado mais um monumento epigrafado, cujo achador – Sr. José Sousa – de imediato entrou em contacto com este Museu, como alias teve ocasião de relatar em recente emissão da RTP1.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Prospecções no concelho de Loulé



Desde os inícios de Novembro que decorrem os trabalhos do projecto ESTELA (novas prospecções arqueológicas e sistematização da informação arqueológica), no Concelho de Loulé. A área incide nas zonas serranas deste concelho (Ameixial, Salir, Querença, Tôr e Alte) onde as informações até aqui sistematizadas por Caetano de Mello Beirão constatavam já da importância das linhas de água nos limites norte do Algarve e em particular do concelho de Loulé (Beirão, 1986; Correia, 1997).


Estela de Viameiro (Museu de Loulé)


Essa concentração – oposta ao conjunto do Algarve ocidental dado a conhecer por Estácio da Veiga em Bensafrim – contempla por um lado o conjunto na vizinhança de Salir (Barradas, Viameiro e Alagoas), mas é sobretudo assinalado em torno do Ameixial (Azinhal dos Mouros, Vale dos Vermelhos, Portela, Corte Pinheiro) (Barros, Melro e Santos, 2010).

Ao facto não é estranho o empenho de Manuel Gomez de Sosa, espanhol então residente no Ameixial nos anos 50/60 (ainda hoje recordado vivamente por Manolo), verdadeiro responsável pela identificação do conjunto de estelas e sítios do Ameixial, Vermelhos, Tavilhão, Azinhal dos Mouros, entre outras. Este entusiasta deu continuidade ao trabalho de José Rosa Madeira (Franco e Viana, 1955), pioneiro da arqueologia do interior do concelho de Loulé, e que chamara já a atenção para a riqueza arqueológica dessa região serrana e em particular da Ribeira do Vascão.

De igual modo já antes o anotara o achado em 1886 de uma cabrinha de bronze no Vascão (Santa Cruz) dado a conhecer por Leite de Vasconcellos (1895) e que pela primeira vez pode ser vista na nova Exposição do MESA.



Estamos de novo nesse meio mundo entre o Alentejo e o Algarve, desde a Ribeira de Odelouca à Ribeira do Vascão. Na Serra.

Bibliografia:

BEIRÃO, C. de M. (1986) – Une civilization protohistorique du Sud du Portugal (1er Age du Fer), Paris, De Boccard.

CORREIA, V. H. (1997): "As necrópoles algarvias da I Idade do Ferro e a Escrita do Sudoeste". In BARATA, F. (coord.): Noventa séculos entre a serra e o mar. Lisboa: 265-279.

FRANCO, M. L., VIANA, A. (1945) – "O espólio arqueológico de José Rosa Madeira", in Brotéria, Lisboa, 41(5), pp. 386-419.

BARROS, P., MELRO, S. e SANTOS, P. J. (2010) – "Projecto ESTELA: primeiros resultados dos trabalhos nas serras de Mú e Caldeirão", Xelb,10, Silves.

VASCONCELLOS, J. L. de (1895) – "Cabrinhas ou bodes de bronze". O Arqueólogo Português, Lisboa, 1ª série, 11, pp. 296-301.

Vida e Morte na Idade do Ferro - montagem e inauguração





Inaugurou na passada quinta-feira a nova Exposição temporária do Museu da Escrita do Sudoeste de AlmodôvarVida e Morte na Idade do Ferro (video promocional) e que resultou dos trabalhos desenvolvidos pelo Projecto ESTELA, responsáveis pela respectiva produção de conteúdos e do catálogo.



Ficam aqui as palavras de António José Messias do Rosário Sebastião, presidente da CM de Almodôvar, e que abrem o Catálogo da Exposição:

"Depois de aberto ao público em 2007 na vila de Almodôvar, o MESA - Museu da Escrita do Sudoeste, constituiu um marco importante na realidade museológica nacional, tornando-se uma referência cultural, particularmente para a região envolvente em que insere o seu âmbito de estudo, o Alentejo e o Algarve.

Nos dois anos posteriores à inauguração da Exposição Almodôvar território emescrita, o Museu desenvolveu paralelamente a esta, um projecto de investigação arqueológica, intitulado ESTELA, que permitiu aprofundar o conhecimento Histórico sobre as comunidades e sítios habitados pelos nossos antepassados na região de Almodôvar durante a Idade do Ferro há mais de 2500 anos. Este trabalho permitiu-nos avançar desta forma para uma nova nova exposição, que agora se inaugura intitulada Vida e Morte na Idade do Ferro, cientes que muito ainda há para descobrir e clarificar sobre os modos de vida e cultura do povo que criou e utilizou a escrita do Sudoeste, esta nova exposição visa alcançar um dos objectivos fundamentais do MESA, trazer ao grande público os resultados da investigação cientifica promovida pela autarquia de Almodôvar através do seu Museu.

Convicto de que desta forma o Museu está a responder aos desafios para que foi criado, é importante salientar o contributo, que estamos a dar para a evolução do conhecimento arqueológico e histórico deste território a que hoje chamamos Portugal.
"














(foto: João Paulo Ruas)









A inauguração da exposição contou com a presença de cerca de 150 pessoas (entre participantes do V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular e almodovarenses) guiados pelo Projecto ESTELA numa visita explicativa.


(foto: CMA)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Vida e Morte na Idade do Ferro



Resultado dos trabalhos desenvolvidos pelo Projecto ESTELA entre 2008 e 2010 é inaugurada na próxima Quinta-Feira, dia 18 de Novembro, ao final do primeiro dia do V EASP, a Exposição Temporária no Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA): "Vida e Morte na Idade do Ferro".

A todos/as fica aqui o nosso convite!

V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular: programa



aqui anteriormente noticiámos a participação do Projecto ESTELA no V Encontro de Arqueologia do Sudoeste, em Almodôvar entre os dias 18 e 20 de Novembro, que conta com a apresentação de duas comunicações e um poster, conforme Resumos:


Projecto Estela: O Território da Escrita do Sudoeste e a Idade do Ferro na actual região de Almodôvar.
(Samuel Melro e Pedro Barros) [comunicação]

Resumo:

Desde 2008 que o Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA), promove o desenvolvimento do Projecto Estela: Sistematização da Informação das Estelas com Escrita do Sudoeste, reflectindo a preocupação por parte da Câmara Municipal de Almodôvar em valorizar um património arqueológico, do qual o concelho é, de certa forma, o epicentro. Através da caracterização dos contextos arqueológicos (apoiada em reconhecimentos no terreno, no estudo de colecções e na documentação de museus) coligiram-se dados para a revisão dos conhecimentos sobre uma sociedade que produziu esses monumentos.

A sistematização de toda esta informação, permite tentar compreender as directas relações entre espaço habitacional, o mundo funerário e as inscrições. Possibilita ainda reflectir sobre o problema chave da ausência de contextos seguros da proveniência das estelas, facto que tem impossibilitado de responder de forma clara e definitiva à pergunta quando foram feitas e onde estavam estas efectivamente colocadas.

Resulta assim que, a par da discussão dos modelos explicativos da usualmente chamada I Idade do Ferro, é ainda objecto de debate o problema da sua cronologia perspectivado a dois níveis em evidente desequilíbrio: a componente epigráfica e linguística e a componente arqueológica. Uma vez constatado o reiterado cariz de reutilizações tardias, isto é da relação secundária das estelas com as necrópoles, verifica-se um desencontro temporal entre a cultura material conhecida no registo arqueológico, essencialmente a partir do século VI a.C., e uma cronologia linguística mais recuada atribuída à Escrita do Sudoeste.

Pretende-se apresentar o balanço e resultados do Projecto Estela, contribuir para o conhecimento das principais problemáticas em torno deste tema e fornecer mais dados para a explicação desta importante manifestação cultural.


Notícia preliminar de uma nova estela com escrita do Sudoeste, proveniente da Herdade do Monte Gordo (Almodôvar).
(Amílcar Guerra, Rui Cortes, Pedro Barros, Samuel Melro) [comunicação]

Resumo:

A abertura, ainda relativamente recente, do Museu da Escrita do Sudoeste, em Almodôvar, para além de dar a conhecer à comunidade o património que lhe pertence, abre caminho a que as populações estejam mais atentas e reconheçam com mais facilidade os bens arqueológicos que observaram nesta unidade museológica, avaliando melhor o seu valor patrimonial. Deste modo, não se torna surpreendente que se tenha identificado mais um monumento epigrafado, do qual que se dá agora uma descrição sumária. O achado registou-se na Herdade do Monte Gordo, freguesia de Rosário (Almodôvar) e vem enriquecer o já rico repertório proveniente deste concelho. De uma forma geral a estela encontra-se bem conservada, mantendo-se em muito bom estado quase todo o seu campo epigráfico. Nele se inscreveu um texto relativamente extenso, que apresenta algumas particularidades interessantes e que constituirá certamente um contributo relevante para o corpus textual associado a esta manifestação escrita.

Apontamentos da Pré-história no concelho de Almodôvar.
(Artur Rocha, Samuel Melro, Pedro Barros, Rui Cortes) [poster]

Resumo:

Os trabalhos de prospecção desenvolvidos na década de 90 por Rui Cortes no âmbito da Carta Arqueológica do Concelho de Almodôvar e mais recentemente no âmbito do Projecto Estela contribuíram para identificar e sistematizar um conjunto de vestígios da Pré-História deste concelho.

Apesar de se encontrarem insuficientemente conhecidos, e do seu deteriorado grau de conservação, os sítios identificados caracterizam-se essencialmente por serem monumentos funerários. Algumas das suas características, permitem considerações comparativas entre os conjuntos megalíticos contíguos, nomeadamente os do Alto Sado e Alto Mira, mas com imediato particularismo como uma manifestação serrana, os situados no sotavento algarvio, nomeadamente do Alto Algarve Oriental e eventualmente uma associação com os monumentos do Barlavento algarvio.

Destaca-se assim o conjunto de tholoi do Canafixal e um conjunto diversificado de monumentos megalíticos piriformes, que terão continuidade e associações na arquitectura tumular ao longo da proto-história e que marcam a paisagem da Serra do Caldeirão.




Para além desta participação dos membros do Projecto estão previstas outras comunicações associadas a trabalhos desenvolvidos em Almodôvar (ver programa). Informações/Inscrições através do site da Câmara Municipal de Almodôvar.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Escrita do Sudoeste em reportagem no Portugal em Directo (RTP)



Na emissão do Portugal em Directo da RTP1 do dia 28 de Outubro, foi destaque a Escrita do Sudoeste, numa reportagem em torno do MESA e do Projecto ESTELA.

Pode ver aqui aos minutos 9.20 (a 1ª parte) e 6.25 (a 2ª parte).

terça-feira, 26 de outubro de 2010

XELB 10 – contributos do Projecto ESTELA



Durante a realização do 8º Encontro de Arqueologia do Algarve, teve lugar a apresentação pública no número 10 da revista Xelb. Esta apresenta, como é já tradição, as Actas do Encontro do ano anterior, no qual o Projecto ESTELA esteve presente com uma comunicação e um poster.

Apresentamos o Resumo de ambos os artigos agora publicados.



Projecto ESTELA: Primeiros resultados dos trabalhos nas serras de Mú e Caldeirão

Resumo


No âmbito da investigação promovida pelo Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA), o projecto ESTELA – Sistematização da Informação das Estelas com Escrita do Sudoeste tem como objectivo sistematizar a informação destes contextos arqueológicos através da sua caracterização, contribuindo para a revisão dos conhecimentos sobre a sociedade que produziu esses monumentos, tentando compreender as directas relações entre espaço habitacional, o mundo funerário e as inscrições.

Na revisão da contextualização histórica das estelas com Escrita do Sudoeste a importância da região Algarvia neste fenómeno surge a vários níveis. Por ter sido precisamente um dos primeiros locais, no actual território português, onde estes monumentos foram identificados em associação directa a contextos arqueológicos conhecidos; e por participar na fronteira diluída entre o Algarve e o Alentejo, da Serra de Mú e do Caldeirão num importante conjunto localizado nos actuais limites dos concelhos de Almodôvar, Loulé e Silves. A centralidade deste conjunto na dispersão das estelas epigrafadas no Sul de Portugal não será displicente, como a associação desse conjunto de estelas a importantes cursos de água que funcionam como pontos-chave no território: a Oeste, nas Ribeiras da Azilheira e Odelouca, e a Este, em torno das Ribeiras do Vascanito e do Vascão.



Projecto ESTELA: o arranque do S.I.SO

Resumo


O Sistema de Informação para o Sudoeste (S.I.SO) é uma componente essencial do projecto ESTELA. Um dos objectivos principais deste projecto é a sistematização da informação das Estelas com Escrita do Sudoeste e da caracterização dos seus contextos arqueológicos e territórios de proveniência, no âmbito de um espaço geográfico cujo principal epicentro abrange as Serras de Mú e do Caldeirão. Como base de consolidação da informação existente à data - bem como da que se pretende recolher durante o tempo de vida do projecto - definiu-se como produto do ESTELA um sistema de informação que funcionasse como charneira tecnológica na agregação dos dados e sua posterior transformação em informação através de ferramentas de análise, nomeadamente, espacial. Pretende-se apresentar os passos iniciais de definição e arranque do sistema de informação.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Museu da Escrita do Sudoeste nomeado para os prémios Mais Alentejo 2010



É com prazer que divulgamos a notícia veiculada pela Câmara Municipal de Almodôvar:

MUSEU DA ESCRITA DO SUDOESTE NOMEADO PARA OS PRÉMIOS MAIS ALENTEJO 2010!

É com enorme orgulho que a Câmara Municipal de Almodôvar anuncia que um conjunto de personalidades de vários sectores da sociedade nomeou o MUSEU DA ESCRITA DO SUDOESTE DE ALMODÔVAR para a categoria "Mais Património" dos prémios Mais Alentejo 2010.

A cerimónia a ter lugar no dia 5 de Novembro no Hotel da Amorim Turismo em Tróia visa distinguir personalidades e instituições ligadas ao Alentejo nos sectores da cultura, lazer, desporto, turismo, política, empresas e sociedade em geral.

A decisão final dos vencedores desta iniciativa anual da Revista Mais Alentejo cabe aos leitores deste meio de comunicação. Assim, pedimos que envie o seu voto no MESA para o email: mais.alentejo@mail.telepac.pt. No mesmo deverá indicar “Na categoria mais património, voto Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar”.

Exposição: Da forma da escrita à escrita da forma



O Projecto ESTELA, desde o início, procura complementar a sua vertente científica com uma preocupação social de aproximar das gentes as histórias e a História do seu território. É por essa razão que colabora com o MESA numa divulgação da Escrita do Sudoeste junto da população local.

É igualmente com esta ideia em mente, mais cultural que científica, que não podemos deixar de divulgar uma outra vertente deste intercâmbio social da Escrita do Sudoeste. Trata-se da exposição de trabalhos de alunos do Departamento de Cerâmica da Escola António Arroio, orientados pela professora Elsa Gonçalves,que se inspiraram na Escrita do Sudoeste para dar corpo à Exposição “Da forma da escrita à escrita da forma”.

Depois de ter estado presente em Almodôvar, São Brás de Alportel, Cuba e Ferreira do Alentejo encontra-se actualmente patente até dia 13 de Novembro na Casa das Artes Mário Elias, em Mértola.

Conheça melhor este projecto e estes trabalhos aqui.

domingo, 10 de outubro de 2010

8º Encontro de Arqueologia do Algarve - Programa



aqui anteriormente noticiámos a participação do Projecto ESTELA no próximo Encontro de Arqueologia do Algarve – Arqueologia e as outras ciências, em Silves entre os dias 21 e 23 de Outubro, com a apresentação de um poster (ver programa).

O poster a ser apresentado traz a público os resultados preliminares realizados sobre os restos osteológicos da Necrópole da Atafona, conforme Resumo:


Necrópole da Atafona actualmente


Os Restos Humanos Cremados da Necrópole da Atafona (Almodôvar): Resultados Preliminares (David Gonçalves, Pedro Barros, Samuel Melro)

A escavação da necrópole do Monte da Atafona (CNS 10508), a par do respectivo povoado, realizou-se na década de 70, no âmbito do estudo da “Civilização Proto-histórica do Sul de Portugal” elaborado por Caetano Beirão, mas apenas foi sumariamente publicada na década de 90 por Mário Varela Gomes.

Inserida por Virgílio Correia na etapa final da arquitectura funerária da Idade do Ferro, do tipo de estruturas em "π" (pi), datada entre o século IV e o III a.C., é composta pelo que parecem ser quatro tumulações particularmente ricas, que no seu todo continham uma crátera em sino, pintada com bandas, "queimadores", arrecadas em ouro, copos, tigelas, vasos, cossoiros, uma faca, entre outros objectos. Neste local foi ainda intervencionada uma sepultura de época romana que, segundo Caetano Beirão, será posterior ao século II d.C..

Após um exaustivo levantamento documental e bibliográfico, bem como a localização da colecção de materiais arqueológicos, que se encontra dividida entre três locais distintos, no âmbito do estudo integral desta colecção apresenta-se agora o estudo antropológico dos conjuntos osteológicos.

Os restos humanos da Necrópole da Atafona foram todos alvo de processos de cremação e foram recolhidos em dois contextos distintos. O primeiro refere-se a enterramentos de carácter funerário nos quais se procedeu à deposição de ossos calcinados em urnas cerâmicas. O segundo contexto é composto por depósitos de cinzas e esquírolas de osso calcinado que aparentemente não constituem sepulturas. A análise de cada um dos
conjuntos de ossos associados a urnas resultou na estimativa de um mínimo de 8 indivíduos sepultados na necrópole.

A análise antropológica dos restos humanos da Necrópole da Atafona vem contribuir para um conhecimento mais aprofundado das práticas funerárias adoptadas pelas populações da Idade do Ferro no Sudoeste da Península Ibérica.


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cerca do Curralão

No âmbito das relocalizações efectuadas em 2008 pelo Projecto ESTELA foi possível determinar o local da descoberta acidental, no decorrer de trabalhos agrícolas à mais de 30 anos, da estela da Cerca do Curralão (Santos, 1980; Beirão, Gomes, 1980: 25; Beirão, 1986: 134, Inscrição nº63; Correia, 1996: 133, 165 e Untermann, 1997: 264, 265; inscrição J.11.3) – CNS 2697.

Os dados relativos a estes trabalhos foram já apresentados no 1º Encontro da Escrita do Sudoeste, Almodôvar (19 de Janeiro de 2009) e em Melro et alli (2009) e Barros et alli (no prelo).



Imagem: (Beirão, 1986: Inscrição nº 63)


O local é situado na Ribeira de Odelouca, importante linha de água que articula a distribuição e a passagem entre as pequenas povoações, naquela que coincide hoje na delimitação administrativa concelhia e regional entre o Alentejo (Ourique e Almodôvar) e o Algarve (Silves).



Nesta área era conhecido um núcleo privilegiado de estelas, nomeadamente as estelas da Corte do Freixo e de São Martinho (Cortes, 1999). A este conjunto pode-se agora associar com segurança a localização exacta da já conhecida estela da Cerca do Curralão, cuja proveniência do achado era incerta e referida a “local impreciso” e de “cartografia impossível” (Correia, 1996: 133 e 165).


Imagem: (Santos, 1980)


Retomando a indicação inicial de Manuel Farinha dos Santos, com a leitura da sua documentação de 1980 onde constava uma relação de diversas "possíveis estações arqueológicas" observadas após se ter deslocado a Santa Susana (Almodôvar), com o intuito de comprar a referida estela, viemos a percorrer os passos daquele investigador e relocalizar de forma fidedigna os sítios arqueológicos referenciados, ao ouvir de viva voz por parte da Srª. Deonilde, as indicações que ela mesmo dera a Farinha dos Santos. A fotografia do achado que encabeça o álbum de fotografias da família ilustra por demais como o episódio foi marcante nesse seio familiar.




A importância deste achado reflectiu-se assim também como um verdadeiro elemento de ligação entre estes e outros achadores com o seu passado, e por consequente o reforço de uma identidade local com um património que é antes de mais parte das comunidades e gentes deste território.

O local da descoberta acidental da estela surge em área aplanada num ponto de entrada da Ribeira de Odelouca, a partir do qual ainda hoje se observa uma maior cadência no povoamento e circulação. Não se observam porém quaisquer materiais ou indicadores que possam precisar qualquer estrutura ou realidade arqueológica na zona do achado ou que afira a possível existência de uma necrópole ou povoado (Melro et alli (2009) e Barros et alli (no prelo)).


Das restantes "possíveis estações arqueológicas" que Manuel Farinha dos Santos (1980) indicara, e nos âmbitos cronológicos eventualmente relacionados com este período, são de reter duas observações. Uma primeira decorre da prospecção realizados em torno da Cerca do Curralão e da identificação de um sítio inédito: Cabeço dos Curralões 2, onde apenas se recolheram dois dormentes. A segunda, que não foi demonstrada no terreno, são as várias notícias de “cistas” de época indeterminada nessa pequena área, nos lugares do Monte da Ribeira de Odelouca, da Cerca do Troviscal e em Valagões. Não podemos por fim esquecer a referência a uma outra estela epigrafada no Cerro dos Cardazóis (Silves) e que estaria num curral hoje já inexistente.

Na continuação da Ribeira de Odelouca, nas suas margens de Almodôvar e Silves, deveremos ainda atender ao sítio associado à estela de São Martinho (Silves) (Cortes, 1999), de novo em área plana na várzea de um meandro da Ribeira de Odelouca e onde mais uma vez se verifica a ausência de espólio arqueológico e estruturas associadas.

A estela da Cerca do Curralão pode actualmente ser vista no Museu de Arqueologia e Etnografia do distrito de Setúbal, integrando desde Outubro de 2009 a exposição permanente aí patente.


Bibliografia:

Barros, P., Melro, S. e Santos, P. J. [no prelo] - "Projecto ESTELA: primeiros resultados dos trabalhos nas serras de Mú e Caldeirão", Xelb,10, Silves.

Beirão, C. de M. e Gomes, M. V. (1980): A I Idade do Ferro no Sul de Portugal: Epigrafia e Cultura. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia.

Beirão, C. de M. (1986) – Une civilization protohistorique du Sud du Portugal (1er Âge du Fer), Paris, De Boccard.

Correia, V. H. (1996) – A Epigrafia da Idade do Ferro do Sudoeste da Península Ibérica, Porto, Ed. Ethnos.

Cortes, R. (1999) – Levantamento da Carta Arqueológica de Almodôvar. Relatório de Estágio Profissional [Projecto Levantamento da Carta Arqueológica de Almodôvar], edição policopiada.

Melro, S., Barros, P., Guerra, A. e Fabião, C. (2009) - "O projecto ESTELA: primeiros resultados e perspectivas", Palaeohispanica 9 - Acta Palaeohispanica X: Actas do X Colóquio sobre Línguas e Culturas Paleo-Hispânicas, Zaragoza, Institución "Fernando el Católico" e Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto, pp. 353-359.

Santos, M. F. dos (1980) – Projecto Prospecção do terreno do concelho de Almodôvar [Investigação ad hoc], Correspondência, 14 Agosto de 1980.

Untermann, J. (1997) – Monumenta Linguarum Hispanicarum. Die tartessischen, keltiberischen und lusitanischen Inschriften,.Wiesbaden, 4, Dr. Ludwig Reichert Verlag.

sábado, 25 de setembro de 2010

Spatial Analysis Applied to Archaeological Sites from Protohistory to the Roman Period



Decorrerá nos dias 2 e 3 de Dezembro na Universidade de Ghent (Bélgica) um encontro intitulado Spatial Analysis Applied to Archaeological Sites from Protohistory to the Roman Period – Workshop on Spatial Archaeology. O programa do encontro pode ser consultado aqui.

O Projecto ESTELA fará neste encontro a apresentação de resultados preliminares da análise espacial realizada sobre os sítios da Idade do Ferro na região onde se insere o projecto, conforme se constata pelo respectivo Resumo:


ESTELA Project: initial assessment to the landscape of the SW Script (Iron Age, South of Portugal).
(Pedro J. Santos, Pedro Barros e Samuel Melro)

The ESTELA Project aims the systematization of the archaeological data associated to the South-Western (or Tartessian) Script. This is considered by linguistic researchers to be the oldest (and still not deciphered) written form of the Iberian Peninsula (and one of the oldest of Europe), little being known about the society and culture behind it. Geographically set in an area in the South of Portugal, the main concentration of stelae seems to be located away from the Eastern Mediterranean cultural centres of the first millennium BC. The data collected over the last century related to this phenomenon is being now complemented by new findings emerging from field surveys. This paper will present an initial assessment aiming to reach better knowledge of the spatial relations between the three main axis of analysis: the world of the living (settlements); the "cities of the dead" (necropolises); and the SW Script evidences (stelae).

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Património: Um Mapa da História



No âmbito das Jornadas Europeias do Património 2010, intituladas Património: Um Mapa da História, coordenadas pelo IGESPAR, I.P., terão lugar na próxima sexta-feira, dia 24 de Setembro, visitas guiadas ao Museu da Escrita do Sudoeste em Almodôvar (MESA).

Chamamos a atenção que, conforme consta no programa das Jornadas, a participação nas visitas guiadas está condicionada por uma marcação prévia a qual poderá ser feita por telefone (286 665 357).

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular



Terá lugar em Almodôvar , entre os dias 18 e 20 de Novembro, o V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, numa organização conjunta da Câmara Municipal de Almodôvar, do IGESPAR I.P. e da Universidade de Huelva.

O Projecto Estela, em parceria com alguns dos seus colaboradores, propôs a apresentação das seguintes comunicações e poster:

Projecto Estela: O Território da Escrita do Sudoeste e a Idade do Ferro na actual região de Almodôvar. (Samuel Melro e Pedro Barros) [comunicação]

Notícia preliminar de uma nova estela com escrita do Sudoeste, proveniente da Herdade do Monte Gordo (Almodôvar). (Rui Cortes, Amílcar Guerra, Pedro Barros, Samuel Melro) [comunicação]

Apontamentos da Pré-história no concelho de Almodôvar. (Artur Rocha, Samuel Melro, Pedro Barros, Rui Cortes) [poster]

Chamamos ainda a atenção para a Conferência de Abertura, a cargo de Amílcar Guerra e Carlos Fabião, sobre o povoado das Mesas do Castelinho (Almodôvar) ao qual deverá estar igualmente prevista uma visita no decorrer do Encontro.

Este Encontro constitui igualmente uma oportunidade de visita ao Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar.

Mais informação sobre o V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular disponível aqui.

domingo, 5 de setembro de 2010

Necrópole da Abóboda (Almodôvar)

Conforme previamente aqui anunciado, decorreu no passado mês de Julho o início da intervenção na necrópole da Abóbada, com o apoio logístico da Câmara Municipal de Almodôvar e com a colaboração de estudantes da Faculdade de letras de Lisboa – a par da sua participação na escavação do povoado das Mesas do Castelinho.



A necrópole da Abóbada (CNS 1019) encontrava-se assinalada unicamente pela presença de um amontoado de pedra, única indicação dos monumentos funerários postos a descoberto na decapagem superficial realizada nos inícios dos anos 70 motivada pela recolha da estela I da Abóbada (J.12.1). Aquela que é o símbolo do MESA obrigava só por si ao esclarecimento do seu local de proveniência.

Remonta a 1971 a notícia preliminar acerca da necrópole (Dias e Coelho, 1971) na qual se relata que com a decapagem da área resultou a identificação de dois túmulos.

A prestável visita e regresso ao local este ano de Manuela Alves Dias – no decurso dos trabalhos – reiterou a indicação da presença de contextos de enterramentos diferenciáveis das habituais estruturas tumulares da região, advindo então a leitura colocada à famosa estela I da Abóbada, encontrada sob uma "urna de incineração da II Idade do Ferro", de uma reutilização como tampa e “mero elemento construtivo de construção reaproveitado” ou numa associação em que foi como tampa “assim colocada intencionalmente com a face epigrafada, oculta, virada para o solo pelos construtores da tumulação” ou em alternativa tendo tombado “sobre a urna pouco tempo depois de ter sido implantada” (Dias e Coelho, 1971: 182).

Posteriores decapagens levadas a cabo pelo habitual colaborador de Caetano de Mello Beirão, Manuel Ricardo, residente na vizinha Aldeia de Palheiros, terão levado à descoberta do segundo fragmento epigrafado do local (J.12.2), sem qualquer outra indicação.



Os trabalhos agora levados a cabo, quase 40 anos depois, aferiram essas primeiras decapagens, mas infelizmente tornou-se evidente que a necrópole veio a ser fortemente destruída pela lavra mecânica e pelo “ensejo do tesouro” que terá ocorrido pouco tempo depois. Este facto compromete em boa parte o total esclarecimento do sítio.



Conclui-se preliminarmente a presença de estruturas tumulares muito afectadas, sendo sobretudo relevante a presença de covachos com cremações, também eles truncados pela destruição ocorrida.

Contrapondo ao escasso e praticamente ausente espólio recolhido da intervenção, outros níveis de informação parecem ser possíveis vir a obter com os dados bio-antropológicos que resultam desses contextos. Nesse sentido foram os trabalhos directamente assistidos no terreno pelo antropólogo David Gonçalves, cuja área de especialização resulta precisamente neste tipo de realidades.



Os trabalhos prosseguirão de forma mais espaçada ainda ao longo de 2010.