quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Divulgando o património como identidade de Almodôvar


Decorreu no passado fim-de-semana uma série de actividades promovidas pela Autarquia de Almodôvar, que reflectem uma aposta e estratégia do município na afirmação do seu património arqueológico como porta de entrada à descoberta de uma herança e de uma paisagem assumida como o antigo território da escrita do Sudoeste.


Como foi referido pelo seu presidente da Câmara Municipal, na apresentação do Guia de Almodôvar (uma amostra do mesmo pode ser vista em Naturterra), a escrita do Sudoeste e o património arqueológico “estão «em destaque» (…), porque tornaram-se «o epicentro e marcas da identidade» do concelho e têm «uma ênfase particular na estratégia de desenvolvimento e de promoção» de Almodôvar” (notícia).

António Sebastião, reforçou a ideia de que “o património é um elemento fundamental da estratégia de desenvolvimento do concelho de Almodôvar” para poder “atrair visitantes, criar empregos”, onde a Autarquia através de um “investimento que valoriza o nosso concelho e cria condições para a sua sustentabilidade futura”. Estas palavras ocorreram durante a apresentação dos resultados de dois anos de escavações na necrópole da Idade do Ferro da Abóbada, conforme é notícia no novo jornal da região do Algarve e Baixo Alentejo: Sulinformação.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A Necrópole da Abóbada da Idade do Ferro: Trabalhos Arqueológicos 2010/2011


No próximo dia 24 Setembro em Almodôvar (Salão Nobre dos Paços do Concelho de Almodôvar) pelas 18:30h, no âmbito da programação das Jornadas Europeias do Património 2011, tem lugar a apresentação dos resultados das campanhas arqueológicas de 2010 e 2011 realizadas na necrópole da Idade do Ferro da Abóbada e da ponta de lança da Idade do Ferro, por Samuel Melro, Pedro Barros e David Gonçalves.


A escavação arqueológica na necrópole da Idade do Ferro da Abóbada (Aldeia dos Fernandes, Almodôvar) decorre do Projecto ESTELA, o qual após a realização de trabalhos de prospecção arqueológica escolheu-o como o primeiro dos lugares a ser intervencionado. Essa escolha teve como objectivo principal o esclarecimento e caracterização do local de proveniência da estela I da Abóbada. Achada em trabalhos agrícolas em 1972 e apelidada como “Estela do Guerreiro”, precisamente por representar ao centro da inscrição com escrita do Sudoeste uma figura humana interpretada como um guerreiro. A descoberta despertou, a nível peninsular, desde então e até à actualidade um enorme interesse pela excepcionalidade da associação entre a escrita e a representação humana. Porém o local da descoberta fora apenas alvo de um breve registo aquando da sua descoberta, com uma notícia preliminar realizada por Manuela Alves Dias e Luis Coelho sem nunca ter sido devidamente intervencionado. Assim, não só era necessário esclarecer cientificamente o contexto deste sítio arqueológico (cronologia, tipo de estruturas, documentar os rituais funerários, etc.), mas igualmente recolher dados para poder contar ao visitante do MESA, a história por detrás daquela figura apelidada de “guerreiro” que é hoje o símbolo deste núcleo museológico.


Os trabalhos arqueológicos realizados em 2010 e 2011 voltaram ao sítio da descoberta da estela I da Abóbada, 38 anos depois. Nestes últimos dois anos, as escavações conduzidas pelos arqueólogos Samuel Melro e Pedro Barros e pelo antropólogo físico David Gonçalves, com o apoio da Câmara Municipal de Almodôvar e da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, permitiram registar com precisão não apenas o local exacto onde se tinha encontrado a estela, que cobria uma urna que conteria uma cremação, como também observar – apesar de ter sido alvo de uma grande destruição causada pela lavra mecânica – a presença de outros dois monumentos funerários (estruturas quadrangulares) e de outras sepulturas em fossa simples (covachos rectangulares abertos no substrato geológico) com deposição secundária das cremações, contribuindo assim para o conhecimento das realidades e práticas funerárias da Idade do Ferro.

Nesse cenário, pautado pela ausência de espólio, uma das poucas excepções a essa regra, foi a recolha de uma ponta de lança, que depois de restaurada é também apresentada publicamente e integrada na exposição “A Vida e a Morte na Idade do Ferro” patente no MESA.

Neste mesmo dia, pelas 21h, Amílcar Guerra apresenta a estela epigrafada com escrita do Sudoeste do Monte Gordo (Rosário).

Guia do Concelho de Almodôvar – Território da Antiga Escrita do Sudoeste


“Visitar Almodôvar, descobrir, ouvir e sentir o seu território, é um convite aliciante e indeclinável. Situado na transição entre o Alentejo e o Algarve, entre a planície e a serra, o Concelho de Almodôvar congrega em si uma espiritualidade ímpar, resultado da diversidade de paisagens e de espécies animais e vegetais que acolhe. Mas Almodôvar é muito mais que uma bonita paisagem: tem alma e história, tão antiga como preciosa.
Ocupada pelo Homem desde o Neolítico, aqui se encontram alguns dos mais importantes achados arqueológicos da história, atestando a centralidade que, desde sempre, o Concelho teve. Entre os tesouros almodovarenses encontram-se importantes e raros achados epigrafados com escrita do sudoeste que nos permitem recuar 2500 anos, à Idade do Ferro, um tempo em que a palavra era de pedra; e também o não menos importante sítio arqueológico das Mesas do Castelinho, aglomerado populacional que se afirmou, desde a II Idade do Ferro, como um dos mais influentes a sul do Tejo.
Almodôvar foi sempre (e de certa forma continua a ser) uma terra de fronteira. Não admira por isso que Almodôvar tivesse sido, ao longo de séculos, a última paragem antes da dura travessia da Serra do Caldeirão, a natural fronteira que sempre separou este Concelho dos aglomerados populacionais algarvios. Actualmente, devido à facilitação da jornada, já não é necessário pernoitar antes de cruzar a Serra no dia seguinte, mas a paragem mantém-se obrigatória para que se possam conhecer as marcas que construíram a identidade de Almodôvar no passado e perduram no presente. Almodôvar traz consigo as lembranças de outros tempos, memórias que o povo cultiva e não deixa esquecer”

São estas as palavras do Autarca de Almodôvar António Sebastião que abrem o “Guia do Concelho de Almodôvar – Território da Antiga Escrita do Sudoeste”, uma edição da Câmara Municipal de Almodôvar, resultado de uma Produção da NATURTERRA, com a coordenação editorial de David Travassos, que irá ser apresentado no dia 23 de Setembro, pelas 21h, na Biblioteca Municipal de Almodôvar.

A escrita do Sudoeste e o património arqueológico assumem particular relevo, como marca de identidade e promoção de Almodôvar. É possível agora aceder a um guia de percursos pedestres, de bicicleta e de automóvel, introduzidos por textos de enquadramento da paisagem, da flora, da fauna, da história e do património do concelho. Nestes capítulos participou Samuel Melro, cumprindo assim os objectivos do Projecto ESTELA na valorização da temática arqueológica, com vista ao seu usufruto público e generalizado de todos os interessados. A partir daqui sai reforçado o convite para a descoberta deste que é o antigo Território da Antiga Escrita do Sudoeste…

Lançamento das Actas do Encontro “Arqueologia e Autarquias”

Integrado nas comemorações das Jornadas Europeias do Património de 2011 (programa), cujo tema é “Património e Paisagem Urbana”, terá lugar no dia 24 de Setembro, pelas 16h locais, no Auditório do Centro Cultural de Cascais, a Mesa Redonda sobre “Arqueologia e Autarquias”.


No final deste evento, numa edição conjunta da Associação Profissional de Arqueólogos e da Câmara Municipal de Cascais, será lançado o livro com as Actas do Encontro “Arqueologia e Autarquias”, realizado em 2008 em Cascais, e no qual o Projecto ESTELA tem com uma participação: “Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar: do museu para o território”, de Samuel Melro, Pedro Barros e Rui Cortes.


Resumo:

“O Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA), criado em 2007, capitaliza um dos maiores ícones da Idade do Ferro do Sudoeste Peninsular – as estelas com Escrita do Sudoeste. Um núcleo museológico que reflecte a preocupação com uma identidade local reconhecida pela Autarquia de Almodôvar num património arqueológico, do qual o concelho é, de certa forma, um dos epicentros.
Consequentemente, a necessidade de proceder à disposição da informação sobre esta temática e da sua expressão no concelho levou ao desenvolvimento do projecto Estela – Sistematização da
Informação das Estelas com Escrita do Sudoeste, cujos principais pressupostos são expostos. Este permitirá, através da caracterização dos contextos e território dos sítios arqueológicos no concelho de Almodôvar, a revisão e produção de conhecimentos sobre a sociedade que ai habitou, e que numa das suas fases, durante os meados do 1º milénio a.C., foi um local central da primeira região peninsular com escrita.
O seu enquadramento no MESA é determinante naquele que é o seu objectivo último: transpor o conhecimento científico adquirido para um território físico e humano, ou seja, transpor o Museu para o Território.
Assumindo-se o turismo como um agente que se pretende dinamizador das regiões interiores, é também necessário equacioná-lo na promoção do património cultural. Este poderá vir a passar pela salvaguarda, valorização e fruição futura de sítios arqueológicos e paisagens culturais associadas, e que seja sustentada, antes de mais, por uma estratégia de Educação Patrimonial para as populações que as envolva.”