terça-feira, 25 de setembro de 2012

Participação do Projecto ESTELA no VI Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular

Terá lugar em Villafranca de los Barros (Badajoz), entre os dias 4 e 6 de Outubro, o VI Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, numa organização conjunta do Ayuntamiento Villafranca de los Barros, do Instituto de Arqueología de Mérida, do Gobierno de Extremadura, da Universidade de Huelva, do IGESPAR I.P. e da DRC Alentejo.

O Projecto Estela, em parceria com alguns dos seus colaboradores, irá apresentar a seguinte comunicação: “A necrópole da Abóboda (Almodôvar)” da autoria de Samuel Melro, Pedro Barros e David Gonçalves.

Mais informação sobre o VI Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular disponível aqui.

SIDEREUM ANA III – contributo do Projecto ESTELA

 
aqui anteriormente noticiámos a participação do Projecto ESTELA na reunião científica do Sidereum Ana III realizado em Mérida entre os dias 19 e 21 de Setembro. Esta contou com a apresentação de uma comunicação da qual se junta o Resumo:

Contributos para a Idade do Ferro entre o Baixo Alentejo e o Algarve: o Projecto ESTELA
 
Desde 2008 que o Projecto ESTELA procede à sistematização da informação das estelas com escrita do Sudoeste através da caracterização dos contextos arqueológicos. Procura-se equilibrar o percurso da investigação até aqui essencialmente centrada nos monumentos e na escrita, coligindo-se dados para a revisão dos conhecimentos sobre a sociedade que produziu esses monumentos e contribuindo para se compreender as directas relações entre espaço habitacional, o mundo funerário e as inscrições.

A importância dessa problemática reside no facto da escrita do Sudoeste ter sido um dos principais suportes de um dos primeiros modelos explicativos do I milénio a.C., no qual as estelas epigrafadas coroavam a expressão de um eloquente mundo funerário da designada I Idade do Ferro de cariz mediterrânico e que, contrastaria com uma chamada II Idade do Ferro de influência celtizante na qual a epigrafia desaparece.

Os trabalhos desenvolvidos referem-se a prospeções que tiveram lugar nos concelhos de Almodôvar e Loulé. Estas permitiram realizar uma análise espacial onde se identificam uma série de eixos de ocupação ao longo do I milénio a.C., entre a planície e a serra, localizados sobretudo pelos vales dos cursos de água que irradiam da Serra do Caldeirão e em menor percentagem nas zonas de cumeada (planaltos).

A distribuição interior desta epigrafia, estruturada nesse território de montanha, permanece assim como uma das questões chave, não apenas dada a diferença que oferece relativamente aos ambientes litorais de cronologia mais antiga, mas também pela sua ausência no novo mundo de necrópoles em torno de Beja.

Outra problemática refere-se à sua cronologia. No quadro de análise crítica do modelo acima referido, em grande parte resultante da revisão cronológica do espólio dos sítios do “Ferro de Ourique” intervencionados na década de 70 do século XX, para momentos mais tardios em torno dos séculos VI/ V a.C., em contraste com o enquadramento inicialmente proposto, também se reequaciona o enquadramento desta epigrafia. Contudo, os contextos das estelas não foram questionados, quando a maioria das epigrafes resulta de achados isolados, de associações de proximidade a necrópoles sem contexto ou reaproveitadas em contextos secundários. Outras, como as da Mealha-a-Nova, Pardieiro e Neves 2 levantam fortes reservas na sua atribuição directa a contextos primários. Desta forma, a escrita do Sudoeste apesar das dificuldades em precisar os seus limites cronológicos deve decorrer num curto intervalo de tempo – centrado entre os meados do século VII a.C. e os inícios do século VI a.C., cronologia corroborada pelo reaproveitamento de uma epígrafe na necrópole de Medellín numa estrutura tumular do último quartel do século VI a.C.. Problematiza-se assim sobre qual a razão para a sua reutilização nos empedrados tumulares das necrópoles, até que ponto as estelas mantêm a sua função funerária, ou teriam tido outro carga simbólica como a re-necropolização da paisagem ou a “legitimização” do mundo rural dito “pós-orientalizante”.

Para além do trabalho de prospecção desenvolvem-se algumas escavações localizadas em sítios que se consideram poder contribuir para o esclarecimento de algumas questões relacionadas com esta temática. O povoado da Portela da Arca remete para a presença de um conjunto habitacional enquadrado nos meados do I milénio e em clara associação à ocupação da zona, nomeadamente a necrópole de Mouriços (composta por dois monumentos, um circular sobreposto por outro retangular, e de onde provêm duas pontas e dois contos de lança em ferro, tal como os fragmentos de uma faca com rebites) enquadrado no século VI/ V a.C..

Outra das intervenções realizou-se na necrópole da Idade do Ferro da Abóbada, com o objectivo de caracterizar o local de proveniência das suas estelas, sobretudo da estela apelidada do “guerreiro”. Conforme já era referido pelos seus descobridores Manuela Alves Dias e Luís Coelho, podemos ainda hoje observar duas estruturas tumulares e locais de cremações. No entanto o conhecimento que se obteve com a intervenção permite entender melhor este sítio. Numa disposição gregária, as duas estruturas, erguidas sobre uma prévia preparação do solo, revelam empedrados quadrangulares com um covacho/ sepultura escavado na base do afloramento rochoso e possivelmente seriam cobertas por um tumulus de pedra e terra. Foram ainda identificados alguns conjuntos de restos osteológicos cremados de origem humana em deposição secundária, que contam com duas formas de enterramento: cinco sepulturas escavadas diretamente no solo sem vestígios de ter havido recurso a qualquer contentor e uma outra, também em fossa simples, mas com recurso a uma urna e de onde provinha a referida estela I da Abóbada. Estas sepulturas revelam dados sobre o ritual funerário, nestes casos os indivíduos – muito provalvelmente, logo após a sua morte - eram cremados num local diferente de onde eram depositados e que a recolha de ossos calcinados da pira não considerava a totalidade do indivíduo, mostram ainda que os ossos foram sujeitos a uma intensidade de combustão elevada com o objetivo de atingir a cremação completa dos indivíduos todos adultos (um deles possivelmente masculino). O parco espólio encontrado, nomeadamente a urna e a ponta e o conto de lança remetem para uma cronologia entre os finais do século VI e os meados do século IV a.C..

Pretende-se assim apresentar o balanço e resultados do Projecto ESTELA, contribuir para o conhecimento das principais problemáticas em torno deste tema e fornecer mais dados para a explicação desta importante manifestação cultural.
 
Estes trabalhos contaram com a colaboração dos alunos do Curso de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de Susana Estrela, David Gonçalves, Amílcar Guerra, Carlos Fabião (Universidade de Lisboa), da Câmara Municipal de Almodôvar e Associação Arqueológica do Algarve aos quais agradecemos.
 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Conferência do Projecto ESTELA no SIDEREUM ANA III


No âmbito da reunião científica do SIDEREUM ANA III, sob o tema “El río Guadiana y Tartessos”, organizada por Javier Jiménez Ávila do Instituto de Arqueología de Mérida, que vai ter lugar entre 19 e 21 de Setembro em Mérida, o Projecto ESTELA vai participar com uma conferência intitulada: “Contributos para a Idade do Ferro no Baixo Alentejo: o Projecto Estela”.

 
Esta terceira reunião continua o objectivo de “intensificar a investigação arqueológica sobre a Proto-História do vale do Guadiana e fomentar os contactos científicos entre os arqueólogos espanhóis e portugueses que desenvolvem a sua actividade ao longo deste rio”. A atenção desta edição é para os “momentos centrais da Idade do Ferro no Sudoeste” entre o Bronze Final e o período Post-Orientalizante.

Aqui também serão apresentados os resultados dos últimos e “espectulares achados das necrópoles da zona de Beja, de Mérida e os ligados ao mundo Fenício junto à foz do rio, para além de muitos outros estudos resultado da investigação sobre Tartessos e do Guadiana Sidérico”. Junto anexa-se o programa e a ficha de inscrição.