A escrita do Sudoeste da Península Ibérica ou Tartéssia é seguramente a mais antiga da Península Ibérica e uma das das mais antigas da Europa. A confirmarem-se as mais recuadas cronologias para esta manifestação epigráfica, que lhe fixam uma origem no séc. VIII a. C., não seria muito posterior à escrita grega arcaica. É, por isso, evidente que estamos perante um dos mais precoces sistema de escrita da Europa, o que lhe confere, por si só, uma extraordinária importância. Por outro lado, esta manifestação epigráfica apresenta-se como um fenómeno surpreendente nesta área distante dos ambientes desenvolvidos do Mediterrâneo Oriental, realidade só explicável por uma antiga presença fenícia no extremo Ocidente peninsular, responsável pelo desenvolvimento de um sistema de signos exógeno que se adapta à língua local. Não é claro, todavia, porque razão a dispersão destes monumentos epigráficos se afasta das áreas onde a presença fenícia é mais abundante e, ao contrário, se desenvolve especialmente no território interior do Sul de Portugal.
Trata-se, por fim, de uma escrita indecifrada, o que se deve em boa parte à reduzida dimensão do corpus textual disponível. Dada a sua importância, deveria merecer uma especial atenção por parte da comunidade científica. Na realidade, constata-se que os problemas que lhe dizem respeito continuam a ser pouco estudados e divulgados, mantendo-se desconhecidos de muitos, não apenas do grande público, mas mesmo dos próprios meios científicos especializados. Em boa verdade apenas num âmbito muito restrito da investigação histórica e arqueológica este fenómeno se conhece com algum pormenor e os trabalhos orientados para esse domínio têm sido, na última década, muito modestos. Mais do que em outros domínios, é consensual que o progresso da investigação se depara sistematicamente com a falta de dados, uma vez que não dispomos sequer de uma centena de documentos, a maioria deles em estado fragmentário. Para além disso, continuam a ser objecto de debate os problemas da origem, cronologia e enquadramento histórico-cultural, essenciais nesta questão, mas que dependem das pesquisas de natureza arqueológica, até ao momento muito reduzidas.
Este projecto destina-se, essencialmente, a responder a estas duas necessidades principais.
Sem comentários:
Enviar um comentário