domingo, 5 de setembro de 2010

Necrópole da Abóboda (Almodôvar)

Conforme previamente aqui anunciado, decorreu no passado mês de Julho o início da intervenção na necrópole da Abóbada, com o apoio logístico da Câmara Municipal de Almodôvar e com a colaboração de estudantes da Faculdade de letras de Lisboa – a par da sua participação na escavação do povoado das Mesas do Castelinho.



A necrópole da Abóbada (CNS 1019) encontrava-se assinalada unicamente pela presença de um amontoado de pedra, única indicação dos monumentos funerários postos a descoberto na decapagem superficial realizada nos inícios dos anos 70 motivada pela recolha da estela I da Abóbada (J.12.1). Aquela que é o símbolo do MESA obrigava só por si ao esclarecimento do seu local de proveniência.

Remonta a 1971 a notícia preliminar acerca da necrópole (Dias e Coelho, 1971) na qual se relata que com a decapagem da área resultou a identificação de dois túmulos.

A prestável visita e regresso ao local este ano de Manuela Alves Dias – no decurso dos trabalhos – reiterou a indicação da presença de contextos de enterramentos diferenciáveis das habituais estruturas tumulares da região, advindo então a leitura colocada à famosa estela I da Abóbada, encontrada sob uma "urna de incineração da II Idade do Ferro", de uma reutilização como tampa e “mero elemento construtivo de construção reaproveitado” ou numa associação em que foi como tampa “assim colocada intencionalmente com a face epigrafada, oculta, virada para o solo pelos construtores da tumulação” ou em alternativa tendo tombado “sobre a urna pouco tempo depois de ter sido implantada” (Dias e Coelho, 1971: 182).

Posteriores decapagens levadas a cabo pelo habitual colaborador de Caetano de Mello Beirão, Manuel Ricardo, residente na vizinha Aldeia de Palheiros, terão levado à descoberta do segundo fragmento epigrafado do local (J.12.2), sem qualquer outra indicação.



Os trabalhos agora levados a cabo, quase 40 anos depois, aferiram essas primeiras decapagens, mas infelizmente tornou-se evidente que a necrópole veio a ser fortemente destruída pela lavra mecânica e pelo “ensejo do tesouro” que terá ocorrido pouco tempo depois. Este facto compromete em boa parte o total esclarecimento do sítio.



Conclui-se preliminarmente a presença de estruturas tumulares muito afectadas, sendo sobretudo relevante a presença de covachos com cremações, também eles truncados pela destruição ocorrida.

Contrapondo ao escasso e praticamente ausente espólio recolhido da intervenção, outros níveis de informação parecem ser possíveis vir a obter com os dados bio-antropológicos que resultam desses contextos. Nesse sentido foram os trabalhos directamente assistidos no terreno pelo antropólogo David Gonçalves, cuja área de especialização resulta precisamente neste tipo de realidades.



Os trabalhos prosseguirão de forma mais espaçada ainda ao longo de 2010.

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