Do momento inaugural da descoberta e interesse pelas estelas com escrita do Sudoeste, nos finais do séc. XVIII e dado a conhecer no Álbum do Cenáculo (Biblioteca Pública de Évora - códice CXXIX), constavam – como vimos anteriormente – as cinco estelas ditas de Ourique e outras três situadas no concelho de Almodôvar. São designadas por “Vale de Ourique” (A. Cen. 91; Üntermann J.11.4), “Guedelhas” (A. Cen. 1,13) e “Góias” (A. Cen. 47. Üntermann J. 27.1) e encontram-se todas desaparecidas. Estas três proveniências devem ser assumidas como áreas genéricas de localização das epígrafes.
Estela de Góias: a partir do Álbum do Cenáculo, do desenho de Zóbel de Zangróniz (Almagro-Gorbea, 2003) e a partir das cópias de Estácio da Veiga dos desenhos do Álbum do Cenáculo
Na continuidade geográfica do conjunto de Ourique, a estela de Góias situar-se-á em torno da aldeia do Rosário (Almodôvar). Nalgumas das sistematizações destes conjuntos epigráficos (Beirão, 1986: 127; Correia 1996: 71) esta estela tem sido associada ao Monte das Góias em São Miguel do Pinheiro (Mértola), contudo não se deve deixar de atender à legenda que surge no seu desenho do Álbum do Cenáculo que aponta para a “Alegoa do Soeiro junto de Almod.ar p. Sra. Do Rosário” (Beirão, 1980: 9). Apesar da existência do topónimo em São Miguel do Pinheiro (Mértola), a zona do Rosário (Almodôvar), pode, por hipótese, corresponder ao local de proveniência desta estela.
No local hoje chamado de Lagoa do Soeiro (Almodôvar) apenas foi reconhecida uma ocupação Medieval/ Moderna (CNS 1033), mas existem outras informações que revelam a importância da área durante a Idade do Ferro. É entre os conjuntos de Ourique e de Neves/ Corvo (Castro Verde e Almodôvar), que se localiza a descoberta mais recente de uma estela epigrafada do Sudoeste, a de Monte Gordo, reaproveitada num monte junto à povoação do Rosário. Deve-se ainda ter em consideração a notícia de Leite de Vasconcellos (1933: 235) do aparecimento, por volta de 1913, de oito espetos de bronze no Rosário, cujo actual paradeiro também é desconhecido.
As prospecções do Projecto Estela revelaram ainda vestígios que, com algumas reservas, atendendo aos paralelos construtivos conhecidos na área face à ausência de materiais, podem estar relacionados com um enquadramento Pré/Proto-histórico: Ataboeira, eventual monumento funerário composto por uma pequena elevação circular que poderá corresponder a um tumulus, e Atalaia 2, com uma mamoa demarcada no topo de uma elevação que lhe aufere um amplo domínio visual.
No local hoje chamado de Lagoa do Soeiro (Almodôvar) apenas foi reconhecida uma ocupação Medieval/ Moderna (CNS 1033), mas existem outras informações que revelam a importância da área durante a Idade do Ferro. É entre os conjuntos de Ourique e de Neves/ Corvo (Castro Verde e Almodôvar), que se localiza a descoberta mais recente de uma estela epigrafada do Sudoeste, a de Monte Gordo, reaproveitada num monte junto à povoação do Rosário. Deve-se ainda ter em consideração a notícia de Leite de Vasconcellos (1933: 235) do aparecimento, por volta de 1913, de oito espetos de bronze no Rosário, cujo actual paradeiro também é desconhecido.
As prospecções do Projecto Estela revelaram ainda vestígios que, com algumas reservas, atendendo aos paralelos construtivos conhecidos na área face à ausência de materiais, podem estar relacionados com um enquadramento Pré/Proto-histórico: Ataboeira, eventual monumento funerário composto por uma pequena elevação circular que poderá corresponder a um tumulus, e Atalaia 2, com uma mamoa demarcada no topo de uma elevação que lhe aufere um amplo domínio visual.
Vista Geral da zona do Rosário a partir de Atalaia 2
Para Este, nesta zona de peneplanície, encontra-se a importante área arqueológica de Neves-Corvo que deu a conhecer as estelas de Neves 2, do Touril e o signário de Espanca, nos limites do concelho de Castro Verde com Almodôvar. Num privilegiado eixo de passagem para Sul, seguindo para montante da Ribeira de Oeiras ao encontro da Ribeira do Vascão, localizam-se as outras duas estelas com escrita do Sudoeste deste conjunto, uma possivelmente junto da actual povoação de Guedelhas e a outra no lugar de Vale de Ourique.
Guedelhas, local referido nos finais do século XVIII por Frei Manuel do Cenáculo de Vilas-Boas como sendo a origem de um achado de uma estela com escrita do Sudoeste traz algumas questões, ainda de difícil resolução. Os parcos elementos que apresenta a sua representação gráfica, que a tornam de difícil compreensão e o facto de não se conhecer hoje o seu paradeiro levam a que não seja considerada um monumento epigráfico. Contudo, nos inícios do século XX Leite de Vasconcellos (1933: 243 e 244) identificou vestígios de povoamento na chamada Herdade das Guedelhas (CNS 6325). Apelidados de "moirama" os achados foram identificados “no curralinho antes do monte, [de] tegulae e [de] uma mó” e uma “pedra de raio” - tendo um machado de pedra polida sido identificado no monte. Nas prospecções realizadas não houve lugar a qualquer confirmação destes dados, o que se pode dever, por um lado, ao tempo já decorrido desde essas observações e, por outro, pela falta de informação concreta sobre a localização do achado. Significará isto que pode haver uma associação do topónimo à Herdade, que nessa altura teria muito maiores dimensões do que nos dias de hoje tem. Quanto à epígrafe, recorde-se ainda que, segundo alguns autores, o seu desenho não permite uma leitura segura (Üntermann, 1997 e Correia, 1996).
Estela de Guedelhas: a partir do Álbum do Cenáculo e
do desenho de Zóbel de Zangróniz (Almagro-Gorbea, 2003)
É ainda nas proximidades da Ribeira de Oeiras que se julga ter sido localizada a estela de Vale de Ourique, (CNS 3167). Frei Manuel do Cenáculo relata que, a 5 de Agosto de 1878, é informado por carta de como a estela estaria a ser reutilizada como assento das colmeias do lavrador José Roiz. No âmbito dos trabalhos do Projecto Estela, no local hoje designado por Monte de Vale de Ourique de Cima (Almodôvar), a história parece ter persistido na memória dos seus moradores, contudo não foram identificados quaisquer vestígios arqueológicos associados.
Deve-se contudo referir que, entre estas duas localizações, ao longo das Ribeiras de Oeiras e do Vale, existem vestígios associados à Idade do Ferro. Notícias orais de eventuais estelas epigrafadas, entretanto desaparecidas, possivelmente destruídas aquando de trabalhos agrícolas ou reutilizadas numa casa no Monte das Mestras, estão associadas a Valagão 1 (CNS 24045), necrópole de onde existe ainda a informação da existência de uma urna cinerária. Monte Beirão 1 (CNS 3161) corresponderá a um povoado (Beirão, 1986: 52 e 53) onde foram recolhidos, entre outros materiais, uma ânfora grega (Beirão, 1986: 55 – fig. 7 A) então datada entre os séculos VII e V a.C. (Beirão e Gomes, 1980: 29 e fig. 299), mas que deve corresponder à primeira metade do século IV a.C. (Arruda, 1997: 93), e um espeto (ou estoque) em bronze (Beirão e Gomes, 1980: 29). A primeira trata-se, até hoje, do único fragmento de ânfora vinária grega identificado no actual território português (Arruda e Gonçalves, 1995:25). Existe ainda a indicação de uma ponta de lança e de uma haste em ferro (Beirão e Gomes, 1980: 26; Silva e Gomes, 1992:249) na necrópole de Monte Novo da Misericórdia (CNS 3160), e informações orais mencionam a existência de urnas, junto a uma estrutura que se define numa pequena câmara no Cerro das Bonecas/Aguentinha (CNS 22051).
Estela de Vale de Ourique: a partir do Álbum do Cenáculo, do desenho de Zóbel de Zangróniz (Almagro-Gorbea, 2003) e a partir das cópias de Estácio da Veiga dos desenhos do Álbum do Cenáculo
Bibliografia citada:
ALMAGRO-GORBEA, M. (2003): Epigrafía Prerromana. Real Academia de la Historia, Catálogo del Gabinete de Antigüedades, Madrid.
ARRUDA, A. M. (1997): As Cerâmicas Áticas do Castelo de Castro Marim no Quadro das Exportações Gregas para a Península Ibérica. Seguido por O Corço, a Kilix e Dyonisos (uma Breve Nota sobre Cerâmica e Símbolos). Lisboa: Edições Colibri.
BEIRÃO, C. de M. e GOMES, M. V. (1980): A I Idade do Ferro no Sul de Portugal: Epigrafia e Cultura. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia.
CORREIA, V. H. (1996): A epigrafia da Idade do Ferro do Sudoeste da Península Ibérica. Porto: Ed. Ethnos.
UNTERMANN, J. (1997): Monumenta Linguarum Hispanicarum, Band IV. Die tartessischen, keltiberischen und lusitanischen Inschriften. Wiesbaden: Dr. Ludwig Reichert Verlag.
VILAS-BOAS, D. F. M. do C. (1791): Cuidados literários do prelado de Beja em graças do seu bispado.
VILAS-BOAS, D. F. M. do C. (1800): "Sesinando Mártir e Beja sua Pátria". Arquivo de Beja, vol. V e seguintes.
VILAS-BOAS, D. F. M. do C. (1813): Graças concedidas por Christo no campo de Ourique acontecidas em outros tempos e repetidas no actual conforme aos desenhos de sua edade. Lisboa.
VASCONCELLOS, J. L. (1933) - Excursão pelo Baixo Alentejo. O Archeólogo Português. Iª série. Nº 29 (1930-1931), p. 230-246
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